segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A matemática do Ano Novo

Dia 01 de janeiro do ano de 2010, nos seus primeiros minutos, em meios a fogos, bebidas e sorrisos, escutei um amigo – novo amigo, como muitos outros feitos nesta viagem – dizer a célebre frase, que me acompanhou durante os últimos 361 dias: “2010 VAI SER 10!”.

Eu estava em Balneário Camboriú, numa viagem feita de última hora e que me rendeu tantas histórias. Depois destes minutos, as horas seguintes foram um borrão, que se encerraram numa cena hilária: eu tinha 8 pirulitos de coração presos ao meu vestido branco. Detalhes à parte, foi tudo como prometido: um lugar legal, vestido branco, cabelos soltos e muita risada.

E assim passou o ano, como a frase dizia, de forma que não poderia ser melhor... uma vez me disseram que aquilo que acontece na virada do ano, acontece o ano todo. E não foi que a Catarina entrou de vez na minha vida? Foram cenas engraçadas, desesperadas, envergonhadas... Foi um ano festivo, pessoas novas, paixonites que foram e voltaram, novas conquistas, uma grande benção na vida... E eu, sempre agradecendo a cada Ano-Novo da vida, exatamente como aprendi a fazer recentemente...

Foram momentos de paz. Mais um ano de bem com o reflexo do espelho, com a luz dos olhos, com a cor da aura. Foi um ano de aprender – e finalmente entender – que as pessoas vêm aquilo que mostramos como mostramos. Foi ano de franja, de cabelo preto que se tornou loiro, ou médio ou longo, sobrancelhas finas ou grossas, unhas coloridas, cintura alta, salto alto... Foi um ano de cremes e perfumes, de vaidade e autoestima.

Foi uma época de libertação. Aprendi a dividir minha história em duas, separei as experiências boas e ruins e coloquei em duas caixas de cores diferentes, que alcanço com a mesma facilidade mas nem sempre com a mesma vontade. Foi um tempo de aprender a lidar com a mágoa e entender que ela só passaria se eu a aceitasse, e aceitasse que o que aconteceu foi muito mais comigo, não só com os outros. Quando eu abri meu coração, em pouquíssimo tempo a mágoa, a dor, o sofrimento que eu tanto evitava, entraram e fizeram seu papel no meu amadurecimento. A mágoa se esvaiu, a dor passou e o sofrimento virou história de mesa de bar. E o melhor de tudo isso foi, depois de tanto tempo, ter boas lembranças e agradecer por isso. Sempre agradecer.

Foi um período de comprometimento. Com as finanças, com a casa, com a saúde. Tantas coisas mudaram. Finalmente fiz as duas coisas que pareciam mais difíceis e hoje, são imperceptíveis na vida: abolir a carne vermelha e o refrigerante. O resultado foi incrível: uma sensação de eu não tenho mais problemas em conseguir o que quero. Um copo de coca-cola e uma fatia de bife que para alguns representa a gula, para mim representa a simplicidade de uma decisão. Que não tem a menor pretensão de ser definitiva, mas sim que perdure enquanto haja vontade.

Foram muitos carimbos. Carimbos no passaporte, vistos e viagens a passeio e a trabalho. A viagem da realização de um sonho ("if I can make it there I can make it anywhere"), viagem de encantamento, de trabalho, de cultura, de diversão, de compras. Tantas compras. Foi também o ano do carimbo na famosa carteira azulzinha, o trabalho conquistado com todo esforço, por todos os anos de empenho e estudo. Foi este carimbo que pagou todos os outros!

Foi um ano inteiro de fé e de promessas. Foi um ano inteiro cumprindo a promessa mais bem paga da vida. Para aqueles que não acreditam, que não julguem a força do nosso universo. Eu vi o sofrimento, a dor e a perda caminhando ao redor da minha família. O câncer, com toda seu poder de destruição, sendo derrotado por um simples sorriso, pelo otimismo e pelo amor. Eu vi a cura, a esperança e a força. São elas que me rodeiam - e rodeiam minha família – agora.

Uma vida de aprendizado, com amigos, velhos e novos, que ouviram e foram ouvidos, que brindaram, viajaram, brincaram e riram comigo. Foram chats de emails, conversas de bar, de carona, de noite, ao telefone, msn, na hora do almoço, nas horas vagas e nem tão vagas. Foram lições, foram enquetes, conselhos, broncas, verdades, elogios e carinhos na alma. Eu fiz um milhão de amigos em apenas dezenas deles.

Sim, 2010 foi 10. Mas todo mundo sabe - e até a tal cartomante disse – que 11 é meu número. E eu sei que neste ano eu terei mais paixões, mais amigos, mais sucesso, mais felicidade. Eu sei que novos obstáculos virão, serão enfrentados e vencidos. Novos objetivos serão traçados e eu vou fingir que vou segui-los fielmente, até que na próxima semana eu mude de ideia e ache algo mais interessante pra fazer. E que, no fim, aquele objetivo lá de trás vai ser conquistado e comemorado por mim, pela família, pelos amigos, gatos, amigos dos gatos...

E por isso, 2011 será... 11?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu sou de alguém

Devaneios, devaneios, devaneios... entre viagens, trabalhos e compromissos, tenho tanto semi-escrito, guardado esperando um ímpeto de inspiração... E, quando a danada (a inspiração) me falta mas sinto que preciso falar, tirar o preto velho das costas, devaneios alheios suprem parte dessa necessidade... E, na hora certa, recebi um texto tido como de Arnaldo Jabor. Se é ou não, “whatever”, o importante é que serviu como uma luva para aquilo que tem habitado meus pensamentos ultimamente...

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara:

"eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também".

No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.

A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".

Agir como tribalista tem consequências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém.

Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair muitas vezes com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc. Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram.

Ficar, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando.

Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como se deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas.

Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçados, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.

Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter "alguém para amar".

Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a ideia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição.

No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer".

Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as licões que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.

Podemos aprender a amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos. E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer.

É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins. Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é ao mesmo que não ter ninguém também... é não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e a tão temida solidão...