Acho que o currículo tinha que ser em formato carta. Carta
aberta, desabafo, lista de desejos. A entrevista tinha que ser entre amigos de
longa data, um papo sincero, uma troca de experiências. Algo como um “vai
jantar lá em casa” e “toma aqui uma cerveja, cara”. Uma seleção criteriosa não
tem que se basear no que a pessoa fez por uma empresa, mas o que ela faz por
ela mesma. Como ela cuida da vida, da família, do gato, do cachorro. Como ela
sonha e o que ela faz pra atingir o que quer. Porque o que mais fazemos no
trabalho senão cuidar? Cuidar dos bens, do departamento, da imagem da empresa. Da
limpeza do vidro, à logomarca, ao ativo fixo, ao papel no banheiro, à saúde
financeira... Cuidamos de um bem que, quando nos envolvemos, se torna nosso.
Acho que meu passado conta muito menos sobre mim do que
minha pretensão de futuro. Meu extenso histórico profissional é limitado se
comparado ao que quero fazer, ou ao que eu realmente posso – ou poderia – ter feito. Minhas
habilidades vão muito além do que eu mesmo posso imaginar se desafiada. E se
aceitar o desafio com o coração.
Acho que um aspirante a funcionário claro que precisa de
formação, de conhecimento, idiomas, experiência. O mais experiente não
necessariamente é o mais zeloso. O candidato que pula “de galho em galho” não
necessariamente é instável. Ao meu redor tenho todos estes, o que procura se
envolver, se doar, entender o negócio da empresa e trabalhar por ele. E tem
aquele ali, naquele canto, que só quer saber do dia do pagode (com letra minúscula pra
ninguém confundir).
Mas acho mesmo que eu morro de medo de ser aquele ali.