segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Uma relação em parágrafo único

Como muitas mulheres, eu tive o sonho de casar bonito, de branco, na igreja. E na pressa da imaturidade, deixei isso acontecer sem o amor mútuo e maduro. Acreditei num conto de fadas, acreditei que a paixão sustentaria a rotina. Aliás eu nem sabia o que era rotina. Meses depois, a relação já dava o ar de comprometida com argumentos egoístas e despreparados. Mas existe um sentimento que só quem casa conhece: o de achar que amanhã vai ser diferente. E neste sentimento vivi o relacionamento mais complicado que já ouvi falar. Na fase da lua-de-mel, recém-casados, aquela que nem foi a primeira briga denunciou o que estaria por vir: o primeiro reveillon separados, e brigados. O primeiro pensamento era de separação, mas um mais forte era o da vergonha de se separar – pra mim, não pra ele, mais prático e cético. Reatamos, entre lágrimas e promessas, porque tudo naquele tempo era sobre a viagem, que mudaria nossa vida e nos colocaria juntos para sempre. Não foi, não mudou e nos afastou. E quando, por insistência, voltamos, deixou mágoas e feridas que nunca cicatrizaram (pausa para dizer que eu, que nunca lidei bem com cicatrizes, tive que aprender a conviver com uma ferida aberta, dolorida e num lugar inconveniente: bem na auto estima). Desta vez, fomos mais longe, construímos uma base, nos aproximamos, até tentamos dar ênfase na palavra família aumentando-a com gato e cachorro. Mas vivíamos pisando em ovos, e de novo, outra separação. Foi em doses pequenas, mas que se consolidou. Só que havia um quê de não sei o que, não sei se amor, apego ou orgulho, que um não deixava o outro ir. Foram “flashbacks” aqui e ali, por quase um ano, que trouxeram uma grande perda – viu que estava se metendo numa roubada e decidiu não ficar por aqui – e uma grande alegria: a (denovoooo) reconciliação. Que aconteceu porque eu, um dia, vi que não sabia lidar com este lance de ficar, de dividir e muito menos de não se comprometer. O nome desta relação sempre foi meio estranho... “namoro meu ex-marido”. “Namorido”. Cada um na sua casa, e eu defendia a ideia de que estávamos amadurecendo a relação. Não, não estávamos. Porque é muito fácil namorar com quem você tem que trabalhar a convivência. Apertou, vai pra sua casa que não quero te ver. E isso foi ficando cada vez mais comum, dormir separados, viver separados num casamento só de papel. A aposta feita, em 5 meses saiu o resultado: exatamente no dia que completaríamos 3 anos da relação mais complicada, tudo acabou. De novo, ele desistiu, como sempre fez quando ficava muito difícil. E desta vez, eu não lutei, não discuti, não procurei respostas, não joguei nada na cara. Simplesmente absorvi, cansada, saturada. E o absolvi. Acho que finalmente ficou claro que algumas relações somam, outras empatam. E me despi do meu orgulho de manter uma relação de eternos zero a zero. Aliás, diferente das outras separações, onde muitos sabem o quanto sofri e chorei (gente é inacreditável o quanto eu chorei), hoje eu estou com um sentimento indescritível de conclusão. Fui a típica escorpiana teimosa, ele o típico ariano alheio. Eu fiz muito mais do que podia, me doei, me entreguei a um amor que nem consigo ainda saber se existiu – deixo esta resposta pro tempo me dar daqui uns 30 anos. Ele nadou com a maré, ditando sua inércia e eu me aconcheguei nisso, mesmo internamente desconfortável. Não era pra ser, não mesmo, contrariando o que eu tinha escrito dois dias antes do fim. E assim, por ora, o sonho de casar bonito tomou outra forma.