Como muitas mulheres, eu tive o sonho de casar bonito, de
branco, na igreja. E na pressa da imaturidade, deixei isso acontecer sem o amor
mútuo e maduro. Acreditei num conto de fadas, acreditei que a paixão
sustentaria a rotina. Aliás eu nem sabia o que era rotina. Meses depois, a
relação já dava o ar de comprometida com argumentos egoístas e despreparados.
Mas existe um sentimento que só quem casa conhece: o de achar que amanhã vai
ser diferente. E neste sentimento vivi o relacionamento mais complicado que já
ouvi falar. Na fase da lua-de-mel, recém-casados, aquela que nem foi a primeira
briga denunciou o que estaria por vir: o primeiro reveillon separados, e
brigados. O primeiro pensamento era de separação, mas um mais forte era o da
vergonha de se separar – pra mim, não pra ele, mais prático e cético. Reatamos,
entre lágrimas e promessas, porque tudo naquele tempo era sobre a viagem, que
mudaria nossa vida e nos colocaria juntos para sempre. Não foi, não mudou e nos
afastou. E quando, por insistência, voltamos, deixou mágoas e feridas que nunca
cicatrizaram (pausa para dizer que eu, que nunca lidei bem com cicatrizes, tive
que aprender a conviver com uma ferida aberta, dolorida e num lugar
inconveniente: bem na auto estima). Desta vez, fomos mais longe, construímos
uma base, nos aproximamos, até tentamos dar ênfase na palavra família
aumentando-a com gato e cachorro. Mas vivíamos pisando em ovos, e de novo,
outra separação. Foi em doses pequenas, mas que se consolidou. Só que havia um
quê de não sei o que, não sei se amor, apego ou orgulho, que um não deixava o
outro ir. Foram “flashbacks” aqui e ali, por quase um ano, que trouxeram uma
grande perda – viu que estava se
metendo numa roubada e decidiu não ficar por aqui – e uma grande alegria: a
(denovoooo) reconciliação. Que aconteceu porque eu, um dia, vi que não sabia
lidar com este lance de ficar, de dividir e muito menos de não se comprometer. O
nome desta relação sempre foi meio estranho... “namoro meu ex-marido”. “Namorido”.
Cada um na sua casa, e eu defendia a ideia de que estávamos amadurecendo a
relação. Não, não estávamos. Porque é muito fácil namorar com quem você tem que
trabalhar a convivência. Apertou, vai pra sua casa que não quero te ver. E isso
foi ficando cada vez mais comum, dormir separados, viver separados num
casamento só de papel. A aposta feita, em 5 meses saiu o resultado: exatamente
no dia que completaríamos 3 anos da relação mais complicada, tudo acabou. De
novo, ele desistiu, como sempre fez quando ficava muito difícil. E desta vez,
eu não lutei, não discuti, não procurei respostas, não joguei nada na cara.
Simplesmente absorvi, cansada, saturada. E o absolvi. Acho que finalmente ficou
claro que algumas relações somam, outras empatam. E me despi do meu orgulho de
manter uma relação de eternos zero a zero. Aliás, diferente das outras
separações, onde muitos sabem o quanto sofri e chorei (gente é inacreditável o
quanto eu chorei), hoje eu estou com um sentimento indescritível de conclusão. Fui
a típica escorpiana teimosa, ele o típico ariano alheio. Eu fiz muito mais do
que podia, me doei, me entreguei a um amor que nem consigo ainda saber se
existiu – deixo esta resposta pro tempo me dar daqui uns 30 anos. Ele nadou com
a maré, ditando sua inércia e eu me aconcheguei nisso, mesmo internamente
desconfortável. Não era pra ser, não mesmo, contrariando o que eu tinha escrito
dois dias antes do fim. E assim, por ora, o sonho de casar bonito tomou outra
forma.