quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Unfollow

Quanto tempo a imagem de uma pessoa pode durar na cabeça de alguém? Por quanto tempo um cheiro pode trazer lembranças? E por quanto tempo pode-se ainda ouvir o tom daquela voz naqueles minutos de silêncio e devaneio, antes de dormir, durante o banho, dentro do carro...

Hoje não "curtimos" mais o verdadeiro pesar da palavra SAUDADE. Alimentamos a dor dela, sim, mas não sabemos mais como lidar com ela. O rosto, pode ser facilmente encontrado no Facebook, no twitter, nas fotos taggeadas, no foursquare - assim como o estilo de vida, gostos, rotina... O tom da voz pode ser ouvido no Youtube, em qualquer vídeo numa busca mais avançada.

Hoje ninguém mais se permite à falta, à saudade como a dor da palavra exprime. Não há mais um retrato antigo no criado-mudo, não há mais uma carta, um telegrama com palavras saudosas. Os retratos daquele rosto antigo, jovem, sépio, se atualiza constantemenrte, através de efeitos de aplicativos de celulares ultramodernos. Não se risca mais um número de telefone da agenda, ou enfim joga fora o guardanapo com o telefone dado no primeiro encontro. No máximo deletamos da agenda do celular e excluímos o histórico de SMS. É a tecnologia substituindo a memória - ou ajudando-a, como insistimos.

Quantas vezes ouvi falar em imagens que se esvaíam com o tempo - ah, só com o tempo. Que cheiros remetem à sensações, que se eternizam, mas que, como um mecanismo orgânico, o cheiro remete à memória e não o contrário - mecanismo esse de defesa de corações despedaçados, com certeza.

Eu não tenho um retrato seu, mas te vejo quando bem entendo, quando aperta o peito e eu revivo sensações e emoções de maneira puramente virtual. Mas isso não é bom, nada bom.

Eu quero cheiros, e a tecnologia ainda não chegou a este ponto.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Depois da tempestade... vamos trabalhar pela bonança!

E nem só de devaneios vive minha cabeça... Semana passada, como muitos, enfrentei a agonia e sensação de impotência frente à natureza. Minha cunhada mora em Nova Friburgo, e durante três dias ficamos sem notícias, sem informações, no desespero de que coisas ruins pudessem ter acontecido. Com a ajuda da equipe do meu trabalho consegui falar com muita gente na cidade, com a Defesa Civil, com a Polícia, Prefeitura, mas tudo em vão... (explicando, nada funcionava lá e eu utilizava rotas telefônicas de emergência para conseguir completar as ligações). Na sexta-feira, a boa notícia, que todos estavam bem, fora da cidade. Mas passaram por maus bocados. Resgate pelos bombeiros, perda de amigos, o escritório inundado, entre tantas outras perdas e tristezas. Mas, apesar de tudo, sem um arranhão.

O que fica dessa experiência para mim, para ela, para tantos, é a solidariedade. Vejo tantos amigos e pessoas próximas engajadas em ajudar, em participar, em pelo menos rezar por estas pessoas que perderam tudo, e para muitas delas, tudo mesmo!
Eu estou recolhendo doações entre meus amigos e no trabalho, tenho amigos fazendo o mesmo, repassei a campanha para as outras filiais da minha empresa. Em Porto Alegre por exemplo, as pessoas levam as doações para o cais, e somente um dos gerentes lá arrecadou 75 camisetas, fora as doações de alimentos e afins. O pessoal de Florianópolis depositou dinheiro para a compra de água. A ajuda está vindo até mesmo da Austrália, onde uma brasileira-aussie manda sua contribuição pela minha conta também – e olha que a situação lá também não é fácil. Isso fora todas as doações recebidas aqui. Coração está aquecido!
Mas, na tentativa de angariar mais e mais, encaminho um texto recebido do meu aluno, cujo cunhado Thiago está trabalhando como voluntário na arrecadação e envio das doações:

DOAÇÕES REGIÃO SERRANA

Primeiramente gostaria muito de agradecer a presteza e colaboração de todos, pois em apenas 24 horas conseguimos arrecadar aproximadamente R$5.200,00 (Utilizado para compras de suprimentos) e centenas de doações de roupas, alimentos , remédios, materiais de limpeza e mais... enchendo dois caminhões e dois carros grandes.
Ontem fomos pessoalmente para entregar as doações .Chegando lá vimos que a situação esta bem pior do que passa pela tv , aquilo esta parecendo um campo de guerra completamente destruido, cidades rurais acabadas , algumas só com escola é igreja de pé. 

 

 
Após nossa ida é que realmente vimos o que o povo de lá precisa de doações , muitas coisas que foram doadas , pouca serventia terão para esse primeiro momento, por isso relacionei uma lista abaixo com as prioridades. Muitos locais ainda não foram alcançados por meio terrestre , por isso a prioridade de doarmos alimentos para pronto consumo , que não precisam ir ao fogo. Na zona rural ainda estão sem agua, luz, gás e telefone.
Novamente agradeço muito a todos pela colaboração , porem as doações não podem parar, continuaremos as arrecadações para brevemente irmos a região serrana entregar os donativos. Comuniquem aos amigos de trabalho , faculdade, parentes... Vamos tentar arrecadar o máximo possível. Contamos mais uma vez com a colaboração de vocês. Aos que estiverem interesse em doar, mas que não podem trazer a doação pessoalmente, também estamos arrecadando dinheiro para compra de suprimentos. Lembrem-se essa é uma campanha paralela , tudo que for arrecadado será entregue pessoalmente nas regiões afetadas.
Muitas famílias se salvaram e não perderam a casa, mas por dentro nada restou, então quem estiver alguma sobrando que possa ser doado, também estamos arrecadando, são os itens: GELADEIRA / FOGÃO / ARMÁRIOS / CAMAS / TELEVISÃO / MESA / CADEIRAS / SOFA / PANELAS / TALHERES / PRATOS / COPOS... 
  • ALIMENTOS DE PRONTO USO QUE NÃO NECESSITAM IR AO FOGO (Enlatados) : PRIORIDADE
Salsicha / Ervilha / Milho Verde / Atum / Sardinha / Pão de Forma / Biscoitos / Agua / Leite em Pó / Leite / Nescau / Leite Condensado / Pêssego / Figo...
  • ALIMENTOS DIVERSOS :
Arroz / Feijão / Açucar / Macarrão / Tempero Pronto / Miojo / Molho de Tomate / Farinha / Fubá / Sopa Pronta / Sal...
  • MATERIAL DE LIMPEZA :
Pano de Chão / Balde / Vassoura / Rodo / Desinfetante  / Álcool / Pá de Obra / Enxada / Sabão em Pó / Detergente / Cloro / Esponja...
  • MATERIAL HOSPITALAR:
Luva cirúrgica / Mascara Respiratória / Gase / Esparadrapo / Atadura / Algodão / Povedine / Antiflamatórios / Analgésicos...
  • ROUPAS DE CAMA E BANHO :
Toalha / Lençol / Cobertor / Colchão / Colchonete / Travesseiro....
  • HIGIENE PESSOAL :
Escova de Dente / Absorvente / Shampoo / Desodorante / Sabonete / Pasta de Dente / Talco...
  • MATERIAIS DIVERSOS :
Copo Descartável / Rações para Cães / Velas / Fósforo / Fogareiros / Lanterna com pilha / Fita Crepe larga / Fita Adesiva Larga / Sacolas Resistentes / Fitilio...
  • CRIANÇAS :
Mamadeira / Chupeta / Brinquedo / Leite Ninho / Roupas / Fralda / Papinhas / Leite NESTLE NAN / Lenço Umedecido / Hipoglos / Talco...

OBS:  Agradecemos a todos as Doações de Roupas , mas por favor NÃO DOEM ROUPAS por enquanto , os centros de Distribuições da Região Serrana estão abarrotados , vamos dar prioridade aos itens relacionados acima que são de extrema importância.

OBRIGADA A TODOS , VAMOS FAZER A NOSSA PARTE!!!!!!!

PS: Não vou postar os dados bancários, endereço e contato do Thiago aqui por questões óbvias, mas quem tiver interesse na doação, me mandem uma mensagem e eu passarei os dados bancários e de contato dele ok? Fiquem despreocupados, pois é uma pessoa super confiável!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Se vai chover então deixa molhar!

Eu, que sou uma garota tão pensativa, perdida em sonhos e ilusões, sempre devaneando no mesmo tema, “over and over”... hoje resolvi escrever sobre a chuva. E que chuva! Hoje a cidade amanheceu caótica. Eu, num bom humor irritante aos olhos daqueles engarrafados e atrasados.

Na realidade, ultimamente eu tenho gostado muito de chuva. Descobri um poder de renovação incrível na água que cai do céu. A cidade inteira discorda, por razões óbvias, por ser Janeiro, por ser de concreto, por ser de manhã, por ser no fim do dia. Mas eu tenho me descoberto mais e mais a cada tempestade.

Semana passada, numa dessas tempestades de fim-de-tarde, eu me peguei dentro do carro, a ponto de querer abrir o vidro e colocar a cabeça pra fora! Meu coração estava apertado, uma sensação terrível, me sentindo presa em mim mesmo, querendo gritar, chorar (eu raramente choro por motivos amorosos. Propaganda de margarina não faz parte deste conceito) ou fazer qualquer coisa que tirasse aquele sentimento de dentro de mim. Sair do carro estava fora de cogitação por questões de leis de trânsito e segurança pública. Então minha solução foi entoar canções românticas dentro do carro mesmo, com tal força que os vidros tremiam. Nada, o aperto persistiu. Ao chegar em casa e ver minha garagem ocupada, me enchi de razão, parei o carro do outro lado da rua e atravessei até minha casa como se nada estivesse acontecendo. A água que corria na rua quase levava as sapatilhas dos meus pés, e aquela sensação tomou meu corpo. Não entrei em casa, apenas joguei a bolsa e "fui passear". Sim, na chuva, ou melhor, embaixo de um temporal, entre raios e trovões... e a água que caía me lavava, lavava minha alma e limpava meus pensamentos.

Em casa, banho tomado, fui dormir leve. Já a cidade... pontos de alagamentos, árvores caídas, quedas de energia. O que era bom pra mim prejudicava São Paulo.

Alguns dias depois, em outra rotina de exorcismo de monstros internos, a corrida no parque me fazia mais leve em vários sentidos. Sem sol mas num dia típico e abafado de verão, o suor que quase me fazia desmanchar em sais minerais foi diluído por gotas gigantes de chuva no meio da tarde... a corrida tomou um novo fôlego e correr na chuva me fez lembrar a primeira vez que corri, ainda do outro lado do oceano. Era outra situação de aperto, bem diferente, onde aquilo que o choro não foi capaz de fazer, a combinação corrida + chuva foi o elixir da vida para que eu continuasse minha trajetória com sanidade. Lembrei do frio de uma primavera cinza, da touca, da grama, da paisagem, das músicas. Lembrei de quantas  vezes em vão eu tentei correr por mais de um minuto, e que naquele momento quanto mais rápido eu corria, mais em êxtase eu me sentia. Claro que ninguém andou no dia seguinte... mas passados quase dois anos, lá estava eu, em outro momento, outros pensamentos, e a mesma sensação. Ah a chuva e sua capacidade de me transportar no tempo.

A cidade... reclamava da chuva que estragava o final de semana de tantos. A mesma chuva que eu levei pra praia horas depois, muvucando os convidados de um churrasco para baixo de um toldo apertado.

Hoje, enquanto tantos passaram a noite em claro no meio de alagamentos e das consequências trazidas pela chuva noturna, eu me fiz de bom humor. Eu sabia que levaria horas no caminho até o trabalho, sabia que as pessoas estariam irritadas, sabia que minha reunião atrasaria. Mas eu ativei o modo sorriso no rosto, entrei no carro e enfrentei a fúria da cidade contra aquela que hoje eu defendo com unhas e dentes. São Paulo pode ter perdido - por tempo indeterminado - sua batalha contra a natureza, com as enchentes, deslizamentos, acidentes, árvores, poluição... mas o que seria da vida sem a renovação que a chuva traz?

Se eu quero enumerar quantos beijos apaixonados, quantas danças e quantas brincadeiras de criança eu já vi/fiz na chuva? Não! Se eu quero entrar em questões governamentais, encontrar um culpado, acusar órgãos ou pessoas pelo lixo e pelo caos? Não! Quero apenas fazer minha parte no mundo, na vida. Quero construir o meu sem destruir o dos outros e, enquanto isso, poder tomar tranquilamente meu banho de chuva.

Ah tomar um banho de chuva! Um banho de chuva!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A arte de ser dos Outros

Quando eu estava aprendendo a dirigir, minha mãe sempre dizia que eu tinha que dirigir por mim e pelos outros;
Quando eu comecei a sair, minha mãe sempre dizia que confiava em mim, mas não confiava nos outros;
Quando eu comecei a estudar, tinha que estudar por mim e pelos outros (odiava trabalho em grupo!);
Quando eu assistia Lost, eu gostava da galera da praia e tinha medo dos Outros;
Quando eu quis aprender sobre religião, a Bíblia me disse que eu jamais poderia julgar os outros.

Então eu parei pra pensar:

São os outros que me machucam;
São os outros que me traem;
São os outros que abusam da minha boa vontade;
São os outros que amedrontam;
E são os outros que me julgam por me deixar ser machucada, traída, abusada, amedrontada e até mesmo julgada.

Depois de realizar tudo isso, de tanto viver e aparentemente tão pouco aprender, me pergunto: porque conviver com os outros é tão complicado mas viver sozinho é praticamente impossível?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

2011 com emoções

O Ano Novo começa, e com ele as famosas resoluções de Ano Novo, que geralmente não são cumpridas. Ainda, com as resoluções – muitas no meu caso – eu me fiz um favor: comecei o ano com a música mais brega possível na cabeça. Sim, Roberto Carlos Feelings reina desde o dia primeiro.

Quando isso acontece, eu não vou contra. Baixo a dita cuja, coloco no repeat one e passo o dia ouvindo a mesma música, over and over... E eis que, analisando a letra, percebi que tão brega quanto cantar Roberto Carlos, é perceber como a música cabe direitinho com o que eu estou pensando. E então realizei que meu itunes cerebral tem um setlist inconsciente com busca de palavras-chave baseado nos meus sentimentos. E ele age no modo automático e furtivo, sem eu sequer me dar conta que, quando eu invoco com uma música, um processo complexo porém muito eficiente já aconteceu momentos antes...

E, em vez que eu encanar com Lily Allen, Katy Perry ou até mesmo Pedra Letícia, todos com músicas bem-humoradas pra começar meu ano no Pollyana’s Feelings, eu fui mesmo de Emoções. Parabéns!

E... como partilhar é tudo na vida, vamos começar 2011 com as mesmas emoções sentido: