As águas de março... sábia Elis que gostava da chuva.
É sabido que eu adoro a chuva. O cheiro da chuva, a cor do
céu, o peso das nuvens, o barulho torrencial. Gosto de assistir o baile das
gotas nas poças, as bolinhas que estouram, a cadência que o vento embala. Chuva é poética. Chuva
embala os pensamentos, leva pra longe.
Hoje eu assisto a chuva de camarote, de maneira clássica,
com uma caneca de café gostoso e fresquinho, recostada na janela da minha sala.
Sem intervenções, sem reuniões, sem problemas pessoais ou de trabalho. Vejo um
pedacinho do céu que mostra o azul do calor do dia. Vejo o termômetro da rua
com a temperatura caindo, grau a grau, o clima refrescando. O sol saindo entre
algumas nuvens douradas e outras pretinhas, pretinhas. Ainda é verão!
Mesmo com o sol, a chuva cai há cerca de 30 minutos. Não tão
forte quanto eu gosto, forte a ponto de me parafrasear com “a água que corria
na rua quase levava as sapatilhas dos meus pés, e aquela sensação tomou meu
corpo”. Está tranquila, discreta, querendo dizer: vim para confortar.
Confortar o calor do termômetro.
Confortar o calor do meu coração.
Confortar o turbilhão dos meus pensamentos.
A chuva sabe que, com ela, ela traz uma mensagem. E ela diz,
na cadência das bolinhas que estouram no chão, que assim como o temporal passa,
suas águas fecham não só uma estação, mas um ciclo.
E eu suspiro e me recosto novamente, esperando o sol brilhar mais forte.