Escrever é terapia. Me tira do corpo as palavras que
gostaria de poder gritar, jogar na cara de alguns. Ou jogar ao vento em fases
de felicidade plena.
Os gaps nesta terapia mostra que a engrenagem da minha vida
está fluindo como um relógio suíço.
E foi quase ontem que eu percebi, coincidentemente, que o
ponteiro menor do meu relógio suíço está desajustado. A hora está certa, mas seu ponteiro se desalinha, então tenho que me basear pelos minutos –
e pela posição do sol, como nos velhos tempos.
E se basear numa prática dos velhos tempos não tem me feito
bem, então tirei o relógio do pulso. Um relógio dourado, vistoso, bonito,
polido. Uma engrenagem perfeita, mas com uma incoerência na hora certa. Fazia
do meu pulso cansado, adornado mas vazio, com medo de confiar na hora presumida
pelo relógio.
Não sei mais a hora. Não sei se estou atrasada ou adiantada.
Eu não quero saber se meus minutos conferem, porque o dia,
no fim da contas, é baseado em horas, e em horas certas.
Quando é a hora certa?
De se entregar, de acreditar, de esquecer, de levantar. Eu
não sabia tudo que se passava em mim até que um simples dispositivo foi
acionado: o cronômetro. Eu tive 60 segundos para acertar uma resposta, mas não
tinha noção do tamanho da cicatriz que eu tinha no peito, bem ali, onde fica a
confiança. Não sabia a superficialidade daquilo que eu jurava ser o melhor
momento da minha vida. Não me lembrava como era acreditar. Ainda não me lembro
como é acreditar. Só lembro do medo de me perder entre os ponteiros.
E olha só... não é que estou insegura em saber se estou uma
hora atrasada ou adiantada. Meu medo é perder minha noção da pontualidade. É de
começar a viver pelos ponteiros dos minutos, vivendo apenas aquele ciclo
perfeito do presente, e fechando meus olhos, ficar cega ao menor ponteiro, de
maneira que mesmo que eu troque de relógio, o hábito me cegue e eu não viva
mais as horas certas da vida. Viver em função do relógio sem ao menos olhá-lo
por completo.
Hoje ando de pulso nu. De alma nua, de coração aberto. Estou
aprendendo a confiar na informação alheia.
Que horas são?