sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O bolo queimado

Eu já tinha ouvido esta analogia há um tempo, mas entendi o conceito, de verdade, só agora. Porque só agora eu tenho que decidir o que fazer com o tal bolo queimado. Antes comer ou não era opção, e se não tivesse bom sempre tinha a doceria da esquina. Mas agora a P* ficou séria.

Então eu me preparei, fui às compras, escolhi os melhores dos ingredientes, paguei caro neles. Vesti meu avental e caprichosamente bati as claras em neve, utilizando minhas melhores ferramentas culinárias. Durante um longo tempo me preparei, medi, bati, mexi, untei e coloquei minha obra-prima de bolo no forno. Um imprevisto tirou meu olhar do timer e o bolo passou do ponto.

Queimou. E agora, o que fazer?

A opção mais fácil, mais cômoda, é comer assim mesmo. É frustrante, porque teve tanto esforço e carinho envolvido e agora tem este gosto de queimado. Mesmo tirando as bordas, o cheiro não é mais o mesmo. E foram tantas expectativas naquele bolo que ter que assumir que ele não ficou como planejava é um banho de água fria. Mas é o que tem, porque começar outro do zero daria muito trabalho e joga-lo fora é admitir que todo este tempo de preparo foi em vão, desperdiçado. Então, quem sabe posso lançar mão de uma cobertura, ou recheie? Talvez ninguém saiba... mas eu sei que não era assim que tinha que ser.

Mas o fato é que é preciso aceitar as falhas. O bolo queimou, ele não atende mais ao seu propósito. Um bolo queimado não satisfaz, não acalenta o ego da doceira. Não é copiado, ninguém pede sua receita. Não é gostoso. Deu trabalho, gastou-se ingredientes, mas por mais trabalhoso que seja, o melhor a ser feito é voltar ao supermercado, comprar tudo novamente, com a mesma qualidade e atenção. Novamente vestir o avental e com o mesmo sorriso, de novo bater, mexer, untar... e colocar outra vez outro bolo ao forno, prestando atenção no timer. Se outros imprevistos podem acontecer? Claro, mas é a vida. O fato é que outro bolo não tira a marca daquele bolo queimado, não tira a lembrança, te deixa com o pé atrás, de repente neste ficarei de 5 em 5 minutos acendendo a luz do forno, vai saber?

Mas a coragem de jogar o bolo fora, ah como é difícil! Como é difícil admitir a falha, jogar tudo no lixo sem saber ao menos se vai dar tempo de fazer um bolo novo...


Eu não queria queimar o bolo, eu não quero comê-lo assim mesmo e joga-lo fora? Dói na alma.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Passa amanhã

Tô deixando a tristeza para amanhã.

Não que eu de fato consiga evita-la, mas é porque a história conseguiu me ensinar algo, e eu sei que estas lágrimas que teimam em aparecer não serão as únicas. Então eu penso: de que adianta chorar agora e chorar amanhã de novo, e de novo, e de novo? Que o pranto venha então de uma vez e saia com força do meu peito, levando com ele toda minha esperança. Porque quando eu chorar, é porque chegou a hora.

E tenho conseguido adiar, dia a após dia, esta queda. Tenho algumas perdas em mente, não sou ingênua. Ninguém passa ileso, ninguém sai sem cicatrizes, e eu estou respeitando meu luto interno. Estou respeitando minhas vontades, rindo de mim mesma sempre que possível. Se está fácil? Esta pergunta é para mim ou para quem me olha? Porque quem me olha tem certeza que eu estou até feliz com isso tudo. Mas eu mesma... 

Medo, desconfiança, remorso, raiva, e muita tristeza. Um turbilhão de pensamentos, sensações, receios, devaneios que vem sem avisar. Aquele monte de "será que é isso mesmo?", "mas e se?" e "tenho a sensação que ainda não acabou" passam pela minha cabeça o tempo todo. E eu nunca tenho respostas, senão minha famigerada "passa amanhã".