segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Calcanhares

Não adianta querer olhar para mim e, descaradamente, desvendar meu interior. Se eu tenho um exterior – chame você de carcaça, escudo, forte ou apenas invólucro, limite-se a olhar e admirar somente o que eu permito que o mundo veja. Não queira se aventurar nas palavras que definem meu eu mais profundo, minhas dores e minhas fraquezas: elas não estão ao seu alcance e, se um dia estiveram, foi um lapso, um momento de baixa, um copo a mais que o permitido, um a menos que o necessário.

Meu mundo é o perfeito e o imperfeito, o certo e o errado, o padrão e o inaceitável. Meu mundo é aquilo que nem me vigiando dormindo eu permito que alguém descubra. Eu não choro, eu engulo e rio de mim mesma. Eu não me arrependo, eu faço dos meus erros história de mesa de bar. Eu não desabo, eu construo em cima do meu próprio castelo de cartas. E eu sou perfeitamente feliz na consciência do meu erro.

Porque, quando tudo desabar e eu olhar para trás, eu vou saber que eu fiz do jeito que, por momentos, eu fui feliz em acreditar que eu era forte e suficientemente brava para lutar contra o lado de fora do mundo. E, quando você virar para mim e disser “Eu te avisei”, eu já serei forte o suficiente para assumir o erro e continuar a minha vida com meu tradicional sorriso no canto da boca.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Serotonina

É incrível... eu estava bem, feliz e tranquila quando ganhei uma barra de chocolate. Guardei na gaveta, mas não consegui pensar em outra coisa senão o quanto eu queria devorá-lo. Consegui me segurar por 7 horas, quando comi a barra inteira em menos de 2 minutos. 
Agora eu, de novo, estou bem, feliz e tranquila... até o próximo chocolate...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Brincadeira de Criança

Quando eu era pequena, adorava minhas Barbies. Tinha, claro, o Ken, provando a safadeza nata da Barbie desde os anos 50. Tinha um bebê de Barbie, que hoje eu nem lembro de onde veio, e ainda tinha todos os apetrechos para a casa da Barbie.

A minha casa da Barbie era montada com as amiguinhas. Não era aquela padrão, vendida nas lojas, branca e rosa. Era montada mesmo, com os móveis de madeira feitos por habilidosos velhinhos que vendiam em suas feirinhas e lojinhas, além dos itens de cama, mesa e banho, enfim, todo o arsenal que utilizava o espaço de um quarto inteiro, onde improvisávamos bacias e tupperwares para a piscina, shampoos para o banho de banheira, pedaços de pano, almofadas, carpete e tecido para os casamentos, festas, enfim, toda a organização necessária para montarmos a casa da Barbie em estilo hollywoodiano.

Todo este processo durava horas. Montar uma casa inteira dava trabalho. Tanto trabalho que, depois de cerca de 3 a 4 horas montando tudo, já estávamos cansadas. Geralmente a brincadeira de Barbie em si durava menos de 30 minutos. Minhas amigas e eu nos entreolhávamos e ou deitávamos e dormíamos no meio da montagem, ou simplesmente decidíamos descer para o playground e ir brincar de outra coisa. O que era completamente descabido, porque geralmente era do playground que tínhamos vindo, cansadas do agito do balanço e decididas à uma brincadeira mais formal e instrospecta.

Passados inassumíveis anos, hoje eu me sinto exatamente naquele momento, onde estava cansada de preparar o terreno da brincadeira e querendo desesperadamente voltar para o playground. Passei tanto tempo me preparando para a vida que hoje eu já nem sei se estou onde quero estar, se a vida que vivo é a que quero. Criei uma expectativa tão grande que o tamanho desta me cansou antes de ver os resultados da brincadeira aparecerem.

Tudo que sei é que quero meu playground de volta.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Aos olhos de Chico

Hoje é um dia de muitas palavras, de muito pensar, de tanto querer devanear... nestes dias as palavras faltam - ou sobram demais, e não consigo organiza-las. Nestes dias as palavras, imagens, lembranças, desejos... todos se embaralham, formam frases disconexas, pensamentos com uma única forma e conteúdo. A tristeza me inspira, a nostalgia me expira, a rotina me enlouquece. A simplicidade da vida me faz apenas querer ler, ver ou escutar, não hoje escrever.

Mas sempre existe a música para preencher qualquer lacuna, traduzir qualquer desejo ou apenas expressar um sentimento, liberar espaço no peito para novos devaneios.

Hoje, acordei lembrando dos lindos olhos azuis de Chico Buarque.

Futuros Amantes
Chico Buarque


"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Para lápis ter ponta: apontador...

No meu último devaneio, citei um simples exemplo de um guardanapo com um telefone, clássico dos bons velhos e românticos tempos, para enaltecer como as coisas estavam ficando cada vez mais modernas, diferentes, mecânicas até.

Pois bem. Eis que, numa festa juvenil - no sentido literal da palavra - no sábado, um cidadão chega até a mim, pede meu telefone e saca do bolso... uma caneta! A reação que eu e minhas amigas tivemos foi a mesma: nos entreolhamos, como se estivéssemos frente à um... um... um telégrafo!

3 perguntas nos cercaram naquele momento:
1 - Oi?
2 - De onde você é?
3 - Você não tem celular?

Se eu dei meu telefone para o moço? Sim: 156. Ele anotou.

E para celebrar este devaneio, escuto Johnny Cash neste momento, para que, mesmo que apenas em música, eu possa voltar de verdade aos velhos tempos, de músicas românticas, saias rodadas e galanteios.