segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Recado

Não são feitos mais de papel e caneta, muitos deles. Muitos são digitais, muitos são pessoais. Tecnologia que tira o charme de um papel dobrado, do tom azul da caneta bic e de quem sabe uma lágrima que molha o papel. Tecnologia que traz a mão trêmula segurando um celular ultramoderno.

Instante. Em menos de uma hora uma expectativa de vida, de mudança, se esvai, o coração gela e o peito dói. 

O livro da vida dá informações desnecessárias, em recados necessários. 

E a vida passa – ou continua – sem delongas. Seu recado foi dado, a decisão, que pareceu tão repentina (talvez não tenha sido), foi tomada sem prévio aviso, sem comunicação, no meio de palavras cruzadas e mentirosas. Nenhuma palavra de consideração. E tantas outras consequências neste tempo passivo foram notadas. Mudança, medo, mais mudança, uma nova esperança. Presentes, apoios, lágrimas e sorrisos, tantas misturas. 

Portas que se abriram para um coração doído que se fecha, quando entregou seu derradeiro recado, escrito em letra de mão, caneta rosa (porque ainda sonha), num papel dobrado molhado por lágrimas.

E o recado foi dado. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Medo

Nem sei de quê.

Talvez de ficar sozinha, de não dar certo, de não vingar. Bateu um medo. Medo mesmo, aquele que faz tremer as pernas. Medo de ter sido tudo em vão, medo de me arrepender.

Porque nada vingou, nada deu certo. E não é que deu certo enquanto existiu, deu errado mesmo! Cortei laços, tomei decisões erradas, insisti no erro e me machuquei. Achei que era cedo pra desistir e me machuquei mais. Agora o que me machuca é o tempo perdido.

E o pior é que a vida não para pra me esperar. Não adianta pedir tempo, pedir pra começar de novo, nem desistir e dar de ombros. A vida não para e tanta gente depende de mim. Sempre segurei, segurei firme, me fiz de arrimo, principalmente mental. Um dia, quis um pra mim, e quando achei que pudesse relaxar neste peito, caí. Caí e a vida me atropelou. Me atropelou de todas as formas, com todas as pernas. Me perdi em todos os vieses.

De todos os arrependimentos o pior é de ter relaxado. Porque os caminhos são escolhas e a gente retoma. Como li estes dias num livro que tem tentado acalmar meu coração, “Nosso caminho é sempre o melhor que podíamos escolher, de acordo com nosso nível de compreensão e adiantamento daquele momento. Se, porém, no dia seguinte, nos dermos conta de que aquele caminho não era o mais adequado, não devemos nos culpar por isso. Devemos apenas mudar de direção, selecionar novas veredas.”

Mas é o arrependimento de ter relaxado que me dá medo. Porque eu tenho, de novo, medo de não confiar em mim. Não nos outros, mas em mim mesmo. Eu já nem sei mais o que eu faço bem. E se eu faço bem mesmo. É uma mistura de experiências que não dá uma profissional completa. Uma mistura de experiências que não dá nem mulher nem adolescente. Uma mistura de experiências que me faz sentir incompleta, perdida, com medo. Medo que não acaba, que não alivia o peito por nem um instante.

Medo de ficar sozinha, de não dar certo, de não vingar...