quarta-feira, 28 de abril de 2010

Menos é sempre mais

"Eu sei!"
"Eu fiz!"
"Eu fui!"
"Eu tenho!"
...
Pesquise mais a fundo, pergunte de novo, confronte. E a resposta será sempre diferente uma da outra.
Existem pessoas, muitas e muitas pessoas, com uma necessidade absurda de auto-afirmação, de valorização que, por muitas vezes, é feita baseada numa grande e insustentável mentira. Uma viagem de negócios que nunca ocorreu, um curso que insistem que foi feito, um show, uma peça, um lugar paradisíaco onde tudo que se conhece são fotos de uma experiência alheia, um carro, uma casa, um CD, um livro...
Mas isso funciona mesmo? Por quanto tempo pode-se sustentar uma mentira? Uma vez ouvi que para uma mentira dar certo, você deve acreditar nela e esquecer a verdade, para que assim possa sustentá-la como verdade absoluta. Mal sabia que acreditar nisso me custou a descoberta de "N" outras mentiras anos depois. Não vou negar que essa tática funcionou sim por um longo tempo, mas que não foi pra sempre e, um dia, a verdade veio. Porque a verdade sempre vem, incrível.
Este desejo de auto-afirmação se torna conhecido das pessoas depois de certo tempo. No começo, é tudo uma grande admiração, uma projeção (quando eu crescer quero ser igual à você!), até mesmo inspiração. Em pouco tempo - sim, muito pouco - isso se torna uma dúvida, uma pulga atrás da orelha, uma desconfiança porque de tantas histórias e fatos, datas não batem, idas e voltas não se conectam, pessoas "mudam" de nome, de lugar, de cor de cabelo. "Como assim você viajou mês passado?". E então, olhares se cruzam semeando a dúvida e deixando um sentimento de vergonha alheia no ar.
A terceira - e pior - fase do círculo destes é a da descrença, da falta de credibilidade e da dúvida sobre o caráter dos necessitados. Ninguém mais acredita em NADA do que você fez, então esta é aquela velha fase onde a história do menininho que nunca falou a verdade um dia precisou dos seus amigos pra salvar sei lá o que e ninguém o levou a sério. Você viajou, estudou, comprou seu próprio carro e ninguém acredita. Que saco né menininho?
Analisando um pouquinho - embora eu nem esteja aqui no mundo pra analisar - pude perceber o grande vazio onde as pessoas com esta necessidade vivem. É um círculo vicioso, um mundo imaginário onde sair implica em aceitar sua minoridade, sua ignorância, o que por muitas vezes nunca vai ser possível de aceitar. E é por isso que este tipo de indivíduo não consegue prazer nas suas conquistas - porque no fundo eles sabem que não é suficiente pra sairem do vazio. Ainda, pense mais: estas pessoas nunca têm um relacionamento duradouro, com nada e com ninguém. Seja no trabalho, pulando de empresa em empresa, sempre achando que poderia estar fazendo melhor, seja na família, construindo um vínculo baseado num castelo de cartas, seja em relacionamentos afetivos, afinal lembramos das três fases no círculo de convivência: um dia, a admiração cai por terra e as máscaras caem. E nunca demora a acontecer.
A necessidade de auto-afirmação, como li a respeito, é sim superável, mas não facilmente, pois está relacionada à segurança, e os inseguros são temerosos, indecisos, desconfiados de sua própria capacidade - embora não se deixem demonstrar esta fragilidade. Muitas vezes são retraídos, egoístas e, pior, invejosos. Mas, um pouco de equilíbrio: todos nós nos auto-afirmamos o tempo todo, é quase um jogo, onde tentamos impressionar o outro com nossos pontos de vista, idéias, posses, níveis de sucesso pessoal, profissional e social, etc. Faz parte da luta pelo poder e pela busca do reconhecimento. Esta é a hora da dosagem, pois a auto-afirmação está intimamente ligada à auto estima. Algumas pessoas têm consciência do seu problema, mas a grande maioria o mascara ou o ignora.
Tenho certeza que temos muitos dessas pessoas em nosso círculo, talvez até um pouco de nós mesmos. Mas se eu pudesse "me" dar um conselho seria: fale sempre a verdade. Eu já aprendi que às vezes dizer "não sei" é a decisão mais sábia a ser tomada. E que ninguém te julga por saber de menos, mas sempre por falar demais.

Um comentário:

  1. Poutz... de fato...

    a verdade é sempre a melhor opção... as vezes nos esquecemos disso, infelizmente...

    não sei pq, lendo o seu texto me lembrei muuuuuito de um amigo nosso da faculdade... pq será???... rs

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