terça-feira, 7 de junho de 2011

Frio na barriga

Me perguntaram pelo menos mil vezes: "você está com frio na barriga?". E a resposta invariavelmente era não, não estava. E não sei porque, parecia que não era real, não era comigo, não iria acontecer, porque algo na última hora me desviaria do caminho. Mas nada disso aconteceu, e eu cheguei.

Cheguei onde queria, do jeito que queria, mas o frio na barriga não veio. Foi perfeitamente normal, como se fizesse parte da minha vida, aliás, como se nunca tivesse saído da minha rotina. Eu sabia exatamente onde ir e o que fazer. Não houve confusão, não houve espera. Nem houve o grande reencontro de mim com meu passado. Foi tudo perfeitamente monótono.

Rótulos, canais, rostos e faces. Todos os mesmos. Mas mais bonitos.

Moedas, canais, tecnologias. Todas as mesmas. Mas mais acessíveis.

Idiomas, sotaques, vozes. Todos os mesmos. Mas (desta vez) compreensíveis.

Lembranças. Todas diferentes.

Um ar de nostalgia em cada passo, que tento esconder com um sorriso que prendo no canto da boca.

As mãos continuam no bolso. Os fones de ouvido continuam presentes, o vento bate forte nas pernas à mostra, insistentemente à mostra. Os óculos escuros mostram um novo momento, emolduram uma outra beleza que contempla a mesma paisagem.

Então, no momento perfeito, o frio na barriga veio e me deixou por cerca de 15 minutos paralisada na sacada do apartamento, contemplando esta paisagem. Perdida em pensamentos e expectativas me deixei levar pelo frio na barriga.

Será então minha rotina por estes 30 dias, acordar e visitar a sacada, para reviver o frio na barriga.

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