quinta-feira, 7 de julho de 2011

O amor não tira férias

Quantas e quantas vezes não ouvimos as histórias de amores de verão. Quantos filmes, novelas, livros, quantos contos que desejamos nossos, quantos devaneios sobre paixões avassaladoras que nos acometem em questão de segundos, quando menos esperamos.

Tudo que precisavámos fazer era nos abrir à elas.

Tudo que precisávamos era esquecer.

As férias da minha vida. Assim que chamo o último mês vivido, título plagiado descaradamente porém vivenciado profundamente. Foram 30 dias de descanso, viagens, risadas e devaneios. Mãos no bolso, pés na estrada, na calçada, no metrô, no trem, no ônibus, em cima e sem salto. Mente lutando em ficar vazia, coração insistindo no desapego, e eu apenas vivendo toda esta luta de sentimentos, com os olhares cobertos por lentes escuras protegidos do escasso sol que a terra de céu cinzento permite raiar. O cinza combinava com a alma, combinava com as letras miúdas que insistia em acompanhar, como um livro virtual de cabeceira.

Três semanas depois, o sol surgiu, o verão chegou tarde no velho continente. Com o sol, ele veio, alto, de gargalo, difícil de entender, mas o olhar disse tudo, mesmo no idioma estrangeiro. Entre beijos e festas, uma conversa profunda sobre a vida selou o primeiro encontro, aquele que seria o último. Minhas asas, que mesmo vermelhas se confundiram com as de um anjo, não foram fortes o suficiente para me tirar do chão, e eu acabei voando para outra direção. Mas o sol me trouxe a lembrança e o cupido, aquele armado não com flechas, resolveu de novo agir: o sol se pôs e eu continuei a olhar o horizonte, com uma imagem ruiva na cabeça.

O último dia de viagem chegou, já saudoso, tenso, com tanto a fazer. Mas a escolha foi feita. Tudo para o ar, quis a companhia, o toque das mãos grandes, os elogios, as fotos, o abraço incrivelmente confortável. Justamente no último dia. Na última noite. Eu fui, com um beijo enquanto ele dormia, e parti.

E hoje são dois os oceanos que nos separam. Amanhã serão cinco. Um dia talvez, nenhum, ninguém sabe.

O que eu sei é eu me abri. E que o amor da vida real também não tira férias.

Um comentário:

  1. ai ai...

    intensidade!

    É isso. Intensidade traz consigo a tensão, pela raiz do termo. Viver demais uma coisa, pensar demais uma coisa, comer demais uma coisa.

    Às vezes e em geral tudo o que é demais não faz bem. É o que dizem.

    Mas algumas coisas, se vividas apenas superficialmente, não são realmente vividas, e sim passam por nós.

    Viver de tudo um pouco em 30 dias, ou sei lá quantos dias exatos foram, é melhor do que viver mais ou menos os mesmos, voltando com uma bagagem (abstrata) repleta. Isso não falando das malas, mas da bagagem, mesmo. Uma viagem longa com poucas histórias, não teria a menor graça.

    Mas eu espero que quando eu for fazer a minha um amor de verão não aconteça para mim. Imagina?! Eu, maníaca por paixões platônicas, vividas de longe, não correspondidas, irreais... separada por 5 oceanos??? Ou me obrigaria a me livrar da platonice definitivamente, ou a me mudar, ou trazer o rapaz pra perto de mim! hauahua

    Mas tb não vou omitir que quando me idealizo em um aeroporto, bem penso que poderia conhecer alguém realmente interessante por ali mesmo... kkk

    Como vc disse, ninguém sabe.

    E é isso o que eu mais gosto. Pq se alguém soubesse, certamente viria contar e estragar a surpresa.

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