Achei que seria um bom momento pra jogar a real de quem eu
sou. Porque eu definitivamente não sou quem você pensa.
Eu não sou forte, pare com isso! Não sou de pedra e muito
menos consigo enfrentar qualquer coisa. Eu choro, choro muito, por tudo. Por
vezes choro até dormir. Ser grande não é ser forte. E porque as pessoas têm esta
certeza que eu sou o Rambo, raramente consigo um colo pra chorar, pra me
aliviar.
Eu não sou destemida, eu sou é cagona. Eu enfrento tudo e
todos porque preciso, mas se pudesse eu acuava, e então me esconderia atrás das
pernas do meu pai. Se esta falta paterna me deu este status de destemida, foi
lucro. Ou falta desta oportunidade de ser defendida. E, porque não admitir,
depois eu choro.
Eu morro de medo de insetos, todos os que voam, até mosca
varejeira me assusta. Abelhas e insetos com ferrão me tiram do corpo. Também
tenho medo de barata, mas como barata não morde, eu consigo depois de uma
grande dose de coragem pegar o “Raid” e extermina-la (1 barata = 1 frasco de
inseticida).
Minha autoestima é mais variável que o dólar. Geralmente é
alta, mas quando cai vejo tanta gente tirando vantagem disso... Por isso, às
vezes eu pareço pretensiosa demais. E já que estamos aqui abrindo o coração
pras verdades minhas, vou admitir: é só armadura. Só preciso ser melhor do que
você pra me prevenir de me machucar. De novo.
Não sorrio o tempo todo. Tenho bico naturalmente. Mas tenho
que sorrir porque é meu melhor ângulo, e aproveito pra trazer um pouco de
oxitocina para o corpo com algumas gargalhadas. Tentar ser feliz tira um pouco
do foco da dureza da realidade.
Não sou rica, bem de vida, tranquila ou responsável.
Recentemente perdi absolutamente tudo que conquistei - menos minha vivência,
minhas viagens, minhas memórias. Então me apeguei à elas, e você acha que eu
sou instável e quero viajar o mundo por pura sede de conquista.
E não, não sou do tipo que levanta e vai, faço o que me dá
na telha. Muitas vezes, eu já calculei todos os riscos e vi que aquela, que pra
você parece a solução mais docemente arriscada, é minha única saída – ou fuga.
Mudar, sair do país, se separar, pedir demissão... estas atitudes que para os
coxinhas são audaciosas, para mim foram tentativas desesperadas em busca da
minha felicidade.
Porque de tudo isso que você já deve ter entendido que eu
não sou, vou te dizer quem eu sou: alguém que só busca a felicidade.
Alguém que sorri quando chora pra afastar a tristeza – e porque
chorar dói. Que luta de peito aberto contra a vida pra transformar um limão
azedo na torta de limão mais doce do mundo e tentar ser o orgulho que quem a
criou. Alguém que tem medo de muita coisa – de insetos à escuridão, mas
principalmente, tem medo de ficar sozinha. Sou aquela que demora pra se vestir,
porque minha autoestima tem que estar bem-vestida. Sou alguém carente, menina,
mulher, cheia de defeitos mas com uma ânsia enorme de mostrar todas as
qualidades de um mundo cor-de-rosa na sua vida, onde tudo tem um lado bom - até a chuva. Uma pessoa que não quer marca,
status, iates. Quer apenas estabilidade. A vida coxinha que tanta gente evita.
Alguém que tudo que mais quer é um colo gostoso no fim do dia, onde eu possa
relaxar e, finalmente, ser fraca. Onde depois de um afago nos cabelos e um
beijo na testa, escute um “descansa,
dorme em paz, você viveu muito por hoje. Deixa que eu cuido do resto.”
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