terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Se vai chover então deixa molhar!

Eu, que sou uma garota tão pensativa, perdida em sonhos e ilusões, sempre devaneando no mesmo tema, “over and over”... hoje resolvi escrever sobre a chuva. E que chuva! Hoje a cidade amanheceu caótica. Eu, num bom humor irritante aos olhos daqueles engarrafados e atrasados.

Na realidade, ultimamente eu tenho gostado muito de chuva. Descobri um poder de renovação incrível na água que cai do céu. A cidade inteira discorda, por razões óbvias, por ser Janeiro, por ser de concreto, por ser de manhã, por ser no fim do dia. Mas eu tenho me descoberto mais e mais a cada tempestade.

Semana passada, numa dessas tempestades de fim-de-tarde, eu me peguei dentro do carro, a ponto de querer abrir o vidro e colocar a cabeça pra fora! Meu coração estava apertado, uma sensação terrível, me sentindo presa em mim mesmo, querendo gritar, chorar (eu raramente choro por motivos amorosos. Propaganda de margarina não faz parte deste conceito) ou fazer qualquer coisa que tirasse aquele sentimento de dentro de mim. Sair do carro estava fora de cogitação por questões de leis de trânsito e segurança pública. Então minha solução foi entoar canções românticas dentro do carro mesmo, com tal força que os vidros tremiam. Nada, o aperto persistiu. Ao chegar em casa e ver minha garagem ocupada, me enchi de razão, parei o carro do outro lado da rua e atravessei até minha casa como se nada estivesse acontecendo. A água que corria na rua quase levava as sapatilhas dos meus pés, e aquela sensação tomou meu corpo. Não entrei em casa, apenas joguei a bolsa e "fui passear". Sim, na chuva, ou melhor, embaixo de um temporal, entre raios e trovões... e a água que caía me lavava, lavava minha alma e limpava meus pensamentos.

Em casa, banho tomado, fui dormir leve. Já a cidade... pontos de alagamentos, árvores caídas, quedas de energia. O que era bom pra mim prejudicava São Paulo.

Alguns dias depois, em outra rotina de exorcismo de monstros internos, a corrida no parque me fazia mais leve em vários sentidos. Sem sol mas num dia típico e abafado de verão, o suor que quase me fazia desmanchar em sais minerais foi diluído por gotas gigantes de chuva no meio da tarde... a corrida tomou um novo fôlego e correr na chuva me fez lembrar a primeira vez que corri, ainda do outro lado do oceano. Era outra situação de aperto, bem diferente, onde aquilo que o choro não foi capaz de fazer, a combinação corrida + chuva foi o elixir da vida para que eu continuasse minha trajetória com sanidade. Lembrei do frio de uma primavera cinza, da touca, da grama, da paisagem, das músicas. Lembrei de quantas  vezes em vão eu tentei correr por mais de um minuto, e que naquele momento quanto mais rápido eu corria, mais em êxtase eu me sentia. Claro que ninguém andou no dia seguinte... mas passados quase dois anos, lá estava eu, em outro momento, outros pensamentos, e a mesma sensação. Ah a chuva e sua capacidade de me transportar no tempo.

A cidade... reclamava da chuva que estragava o final de semana de tantos. A mesma chuva que eu levei pra praia horas depois, muvucando os convidados de um churrasco para baixo de um toldo apertado.

Hoje, enquanto tantos passaram a noite em claro no meio de alagamentos e das consequências trazidas pela chuva noturna, eu me fiz de bom humor. Eu sabia que levaria horas no caminho até o trabalho, sabia que as pessoas estariam irritadas, sabia que minha reunião atrasaria. Mas eu ativei o modo sorriso no rosto, entrei no carro e enfrentei a fúria da cidade contra aquela que hoje eu defendo com unhas e dentes. São Paulo pode ter perdido - por tempo indeterminado - sua batalha contra a natureza, com as enchentes, deslizamentos, acidentes, árvores, poluição... mas o que seria da vida sem a renovação que a chuva traz?

Se eu quero enumerar quantos beijos apaixonados, quantas danças e quantas brincadeiras de criança eu já vi/fiz na chuva? Não! Se eu quero entrar em questões governamentais, encontrar um culpado, acusar órgãos ou pessoas pelo lixo e pelo caos? Não! Quero apenas fazer minha parte no mundo, na vida. Quero construir o meu sem destruir o dos outros e, enquanto isso, poder tomar tranquilamente meu banho de chuva.

Ah tomar um banho de chuva! Um banho de chuva!

Um comentário:

  1. Toda chuva q cai, lembro da época em que a gde preocupação da minha vida era subir até o apartamento p/ trocar a camiseta branca por uma escura e então descer p/ a quadra do prédio, esperando ansiosamente as gotas mágicas de água caírem do céu.

    Muitos tombos depois a chuva parava, mas não eu, que corria para a piscina onde me jogava do jeito que estava.

    Chegava em casa depois de alma lavada e pronta para levar c/ bom humor até a bronca da mãe por eu estar ensopada.

    Deixa chover, deixa a chuva molhar...

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