quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A arte de ser dos Outros

Quando eu estava aprendendo a dirigir, minha mãe sempre dizia que eu tinha que dirigir por mim e pelos outros;
Quando eu comecei a sair, minha mãe sempre dizia que confiava em mim, mas não confiava nos outros;
Quando eu comecei a estudar, tinha que estudar por mim e pelos outros (odiava trabalho em grupo!);
Quando eu assistia Lost, eu gostava da galera da praia e tinha medo dos Outros;
Quando eu quis aprender sobre religião, a Bíblia me disse que eu jamais poderia julgar os outros.

Então eu parei pra pensar:

São os outros que me machucam;
São os outros que me traem;
São os outros que abusam da minha boa vontade;
São os outros que amedrontam;
E são os outros que me julgam por me deixar ser machucada, traída, abusada, amedrontada e até mesmo julgada.

Depois de realizar tudo isso, de tanto viver e aparentemente tão pouco aprender, me pergunto: porque conviver com os outros é tão complicado mas viver sozinho é praticamente impossível?

Um comentário:

  1. como diria Satre: O inferno são os Outros...

    uma breve explanação sobre o outro no ponto de vista de Sartre (andei passando por essa fase ano passado, agora estou na parte em q sartre divaga sobre a Liberdade... :P)


    O outro
    As outras pessoas são fontes permanentes de contingências. Todas as escolhas de uma pessoa levam à transformação do mundo para que ele se adapte ao seu projeto. Mas cada pessoa tem um projeto diferente, e isso faz com que as pessoas entrem em conflito sempre que os projetos se sobrepõem. Mas Sartre não defende, como muitos pensam, o solipsismo. O homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só através dos olhos de outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro. "O ser Para-si só é Para-si através do outro", ideia que Sartre herdou de Hegel. Cada pessoa, embora não tenha acesso às consciências das outras pessoas, pode reconhecer neles o que têm de igual. E cada um precisa desse reconhecimento. Por mim mesmo não tenho acesso à minha essência, sou um eterno "tornar-me", um "vir-a-ser" que nunca se completa. Só através dos olhos dos outros posso ter acesso à minha própria essência, ainda que temporária. Só a convivência é capaz de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que desejo. Daí vem a ideia de que "o inferno são os outros", ou seja, embora sejam eles que impossibilitem a concretização de meus projetos, colocando-se sempre no meu caminho, não posso evitar sua convivência. Sem eles o próprio projeto fundamental não faria sentido.

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